Pois é, a literatura. Fui ler João Ubaldo Ribeiro (Sagerto Getúlio) e não gostei. Aliás, nem consigo entender o que o dito cujo do sargento fala. Vocês têm que entender que o palavreado popular do povo aqui mais pro sul é um tanto quanto diferente. Desculpa, Get, eu tentei, mas não deu.
Agora, graças a menina Cris eu li Hilda Hist. Então, sem a permissão dela (até porque ela copiou de um livro, e eu não acredito que ela tenha pedido pra autora...), copio aqui um post dela:
Naquele dia eu achei livros da Hilda Hilst, uns publicados pela nankin, e trouxe um deles, mesmo sabendo que meus dinheiros tinham já pernas bem curtinhas. A gente precisa se sacrificar, afinal de contas (Sergito, não me venha com churumelas, tá?) e pronto, trouxe. "Cascos & Carícias", com as crônicas que ela escreveu pro Correio Popular de Campinas, de 92 a 95. Como é bom, gente amiga. Como ela é tão espirituosa e engraçada, eu nem sabia disso tudo, tô muito feliz com minha aquisição, mesmo que eu não tenha dinheiros pra almoçar nesse momento e não tenha mais a cara dura de ligar pedindo mais dinheiro (pode parecer que não, mas há limites); além do mais, eu tenho reserva energética de sobra. E como.
Mas há coisas maravilhosas, e nós rimos juntos, e eu já tenho muita saudade disso, mas aí é uma outra história.
Não resisto e trago esse pedacinho aqui, que só lê quem quer, obviamente (portanto, não precisa mandar e-mail com "sugestão", bem entendido?):
"Lembrei-me: aquela santa que bebia a água da bacia onde lavava os leprosos chama-se Santa Margarida Maria Alacoque. Também não sei mais nada sobre ela, só isso. Ainda bem. E por que será que todas as coisas ligadas à santidade são necessariamente ligadas ao sofrimento? Por que é preciso flagelar-se, jejuar, maltratar o corpo, mutilar-se, dar todos os bens, ser um pária na vida? Por que os humanos inventaram um deus ou deuses sempre ameaçadores, ávidos por sangue e martírio, as bochechas inchadas de tanto triturar a carne das criaturas? O conceito de martírio, holocausto, sofrimento para dar prazer a um deus é para mim inaceitável. O que pensar dos neurônios de Isaac entendendo que era pra pôr o filho na fogueira? Todos esses supostos diálogos dos humanos com um suposto deus me lembram a Telesp em dias de chuva, você chamou Londres e te dão Carapicuíba ou Cururu-Mirim. Ninguém entendeu nada até agora (como na microfísica) e os humanos têm mesmo, segundo a Ciência, muitos parafusos soltos entre o neocórtex e o hipotálamo. Não me conformo também com isso de um deus mandar seu filho para o planeta Terra a fim de ser crucificado. Pra nos salvar, me ensinaram. Mas nós não fomos salvos de nada! Continuamos os mesmos estúpidos paranóicos (é só ler a História) em direção à loucura, ao pânico, ao desespero. Como é que você pode entender alguém que te diz: 'sim, meu amor, eu te amo, mas agüenta firme que vou te arrancar as unhinhas, agüenta firme que vou te furar os óinho, agüenta firme que vou te crucificar'. Até parece historinha sadô: 'me bate, amor, me corta de gilete, me põe o armário em cima.' Se Deus fosse só um amante enciumado e eu o traísse com o chifrudo, até dá pra entender. O sexo é ligado a muitas fantasias sórdidas. Ou vocês só fazem aquele buraco no lençol? Alguém muito especial me dizia: tens um inimigo? Deseja-lhe uma paixão. Mas a luz lá de cima, o grande sol das almas me condenando ao sofrimento, me pentelhando para sempre a vida? Ah, não.
Outra coisa: eu gosto muito de Jeshua. Foi um raro, um excepcional, um homem (?) da mais alta qualidade, mas também gosto muito da teoria da vitimologia. Jeshua não poderia ter sentido culpa pelos mais variados motivos? Por excessiva bondade? Por ter amado ou desejado Marta, Maria ou Madalena? Por ter espancado aquela figueira? Por ter sido tão admirável, tão singular e tão raro? Por extrema beleza? Por tão grande poder de sedução? Sim, porque, afinal, não é todo dia que você vê alguém andando, pra cima e pra baixo, sempre acompanhado de doze homens. Eu me sentiria culpada por tanta sedução. E quem se sente culpado quer, no mais fundo, ser castigado. Aí vocês dirão: não, mas ele disse 'Pai, afasta de mim esse cálice.' Como é que você sabe o que ele disse? Alguém ouviu esse diálogo íntimo de Jeshua com seu deus? Ou vocês acham que ele ficou gritando feito um ator no palco, lá no Jardim das Oliveiras, assim aos quatro ventos, para acordar discípulos e passarinhos, justo ele que sabia ser tão delicado?
Ó, patéticas invenções, ó, nós, humanos, tão ambíguos e absurdos!"
Agora, graças a menina Cris eu li Hilda Hist. Então, sem a permissão dela (até porque ela copiou de um livro, e eu não acredito que ela tenha pedido pra autora...), copio aqui um post dela:
Naquele dia eu achei livros da Hilda Hilst, uns publicados pela nankin, e trouxe um deles, mesmo sabendo que meus dinheiros tinham já pernas bem curtinhas. A gente precisa se sacrificar, afinal de contas (Sergito, não me venha com churumelas, tá?) e pronto, trouxe. "Cascos & Carícias", com as crônicas que ela escreveu pro Correio Popular de Campinas, de 92 a 95. Como é bom, gente amiga. Como ela é tão espirituosa e engraçada, eu nem sabia disso tudo, tô muito feliz com minha aquisição, mesmo que eu não tenha dinheiros pra almoçar nesse momento e não tenha mais a cara dura de ligar pedindo mais dinheiro (pode parecer que não, mas há limites); além do mais, eu tenho reserva energética de sobra. E como.
Mas há coisas maravilhosas, e nós rimos juntos, e eu já tenho muita saudade disso, mas aí é uma outra história.
Não resisto e trago esse pedacinho aqui, que só lê quem quer, obviamente (portanto, não precisa mandar e-mail com "sugestão", bem entendido?):
"Lembrei-me: aquela santa que bebia a água da bacia onde lavava os leprosos chama-se Santa Margarida Maria Alacoque. Também não sei mais nada sobre ela, só isso. Ainda bem. E por que será que todas as coisas ligadas à santidade são necessariamente ligadas ao sofrimento? Por que é preciso flagelar-se, jejuar, maltratar o corpo, mutilar-se, dar todos os bens, ser um pária na vida? Por que os humanos inventaram um deus ou deuses sempre ameaçadores, ávidos por sangue e martírio, as bochechas inchadas de tanto triturar a carne das criaturas? O conceito de martírio, holocausto, sofrimento para dar prazer a um deus é para mim inaceitável. O que pensar dos neurônios de Isaac entendendo que era pra pôr o filho na fogueira? Todos esses supostos diálogos dos humanos com um suposto deus me lembram a Telesp em dias de chuva, você chamou Londres e te dão Carapicuíba ou Cururu-Mirim. Ninguém entendeu nada até agora (como na microfísica) e os humanos têm mesmo, segundo a Ciência, muitos parafusos soltos entre o neocórtex e o hipotálamo. Não me conformo também com isso de um deus mandar seu filho para o planeta Terra a fim de ser crucificado. Pra nos salvar, me ensinaram. Mas nós não fomos salvos de nada! Continuamos os mesmos estúpidos paranóicos (é só ler a História) em direção à loucura, ao pânico, ao desespero. Como é que você pode entender alguém que te diz: 'sim, meu amor, eu te amo, mas agüenta firme que vou te arrancar as unhinhas, agüenta firme que vou te furar os óinho, agüenta firme que vou te crucificar'. Até parece historinha sadô: 'me bate, amor, me corta de gilete, me põe o armário em cima.' Se Deus fosse só um amante enciumado e eu o traísse com o chifrudo, até dá pra entender. O sexo é ligado a muitas fantasias sórdidas. Ou vocês só fazem aquele buraco no lençol? Alguém muito especial me dizia: tens um inimigo? Deseja-lhe uma paixão. Mas a luz lá de cima, o grande sol das almas me condenando ao sofrimento, me pentelhando para sempre a vida? Ah, não.
Outra coisa: eu gosto muito de Jeshua. Foi um raro, um excepcional, um homem (?) da mais alta qualidade, mas também gosto muito da teoria da vitimologia. Jeshua não poderia ter sentido culpa pelos mais variados motivos? Por excessiva bondade? Por ter amado ou desejado Marta, Maria ou Madalena? Por ter espancado aquela figueira? Por ter sido tão admirável, tão singular e tão raro? Por extrema beleza? Por tão grande poder de sedução? Sim, porque, afinal, não é todo dia que você vê alguém andando, pra cima e pra baixo, sempre acompanhado de doze homens. Eu me sentiria culpada por tanta sedução. E quem se sente culpado quer, no mais fundo, ser castigado. Aí vocês dirão: não, mas ele disse 'Pai, afasta de mim esse cálice.' Como é que você sabe o que ele disse? Alguém ouviu esse diálogo íntimo de Jeshua com seu deus? Ou vocês acham que ele ficou gritando feito um ator no palco, lá no Jardim das Oliveiras, assim aos quatro ventos, para acordar discípulos e passarinhos, justo ele que sabia ser tão delicado?
Ó, patéticas invenções, ó, nós, humanos, tão ambíguos e absurdos!"