sexta-feira, agosto 02, 2002

Pois é, a literatura. Fui ler João Ubaldo Ribeiro (Sagerto Getúlio) e não gostei. Aliás, nem consigo entender o que o dito cujo do sargento fala. Vocês têm que entender que o palavreado popular do povo aqui mais pro sul é um tanto quanto diferente. Desculpa, Get, eu tentei, mas não deu.

Agora, graças a menina Cris eu li Hilda Hist. Então, sem a permissão dela (até porque ela copiou de um livro, e eu não acredito que ela tenha pedido pra autora...), copio aqui um post dela:

Naquele dia eu achei livros da Hilda Hilst, uns publicados pela nankin, e trouxe um deles, mesmo sabendo que meus dinheiros tinham já pernas bem curtinhas. A gente precisa se sacrificar, afinal de contas (Sergito, não me venha com churumelas, tá?) e pronto, trouxe. "Cascos & Carícias", com as crônicas que ela escreveu pro Correio Popular de Campinas, de 92 a 95. Como é bom, gente amiga. Como ela é tão espirituosa e engraçada, eu nem sabia disso tudo, tô muito feliz com minha aquisição, mesmo que eu não tenha dinheiros pra almoçar nesse momento e não tenha mais a cara dura de ligar pedindo mais dinheiro (pode parecer que não, mas há limites); além do mais, eu tenho reserva energética de sobra. E como.

Mas há coisas maravilhosas, e nós rimos juntos, e eu já tenho muita saudade disso, mas aí é uma outra história.

Não resisto e trago esse pedacinho aqui, que só lê quem quer, obviamente (portanto, não precisa mandar e-mail com "sugestão", bem entendido?):

"Lembrei-me: aquela santa que bebia a água da bacia onde lavava os leprosos chama-se Santa Margarida Maria Alacoque. Também não sei mais nada sobre ela, só isso. Ainda bem. E por que será que todas as coisas ligadas à santidade são necessariamente ligadas ao sofrimento? Por que é preciso flagelar-se, jejuar, maltratar o corpo, mutilar-se, dar todos os bens, ser um pária na vida? Por que os humanos inventaram um deus ou deuses sempre ameaçadores, ávidos por sangue e martírio, as bochechas inchadas de tanto triturar a carne das criaturas? O conceito de martírio, holocausto, sofrimento para dar prazer a um deus é para mim inaceitável. O que pensar dos neurônios de Isaac entendendo que era pra pôr o filho na fogueira? Todos esses supostos diálogos dos humanos com um suposto deus me lembram a Telesp em dias de chuva, você chamou Londres e te dão Carapicuíba ou Cururu-Mirim. Ninguém entendeu nada até agora (como na microfísica) e os humanos têm mesmo, segundo a Ciência, muitos parafusos soltos entre o neocórtex e o hipotálamo. Não me conformo também com isso de um deus mandar seu filho para o planeta Terra a fim de ser crucificado. Pra nos salvar, me ensinaram. Mas nós não fomos salvos de nada! Continuamos os mesmos estúpidos paranóicos (é só ler a História) em direção à loucura, ao pânico, ao desespero. Como é que você pode entender alguém que te diz: 'sim, meu amor, eu te amo, mas agüenta firme que vou te arrancar as unhinhas, agüenta firme que vou te furar os óinho, agüenta firme que vou te crucificar'. Até parece historinha sadô: 'me bate, amor, me corta de gilete, me põe o armário em cima.' Se Deus fosse só um amante enciumado e eu o traísse com o chifrudo, até dá pra entender. O sexo é ligado a muitas fantasias sórdidas. Ou vocês só fazem aquele buraco no lençol? Alguém muito especial me dizia: tens um inimigo? Deseja-lhe uma paixão. Mas a luz lá de cima, o grande sol das almas me condenando ao sofrimento, me pentelhando para sempre a vida? Ah, não.


Outra coisa: eu gosto muito de Jeshua. Foi um raro, um excepcional, um homem (?) da mais alta qualidade, mas também gosto muito da teoria da vitimologia. Jeshua não poderia ter sentido culpa pelos mais variados motivos? Por excessiva bondade? Por ter amado ou desejado Marta, Maria ou Madalena? Por ter espancado aquela figueira? Por ter sido tão admirável, tão singular e tão raro? Por extrema beleza? Por tão grande poder de sedução? Sim, porque, afinal, não é todo dia que você vê alguém andando, pra cima e pra baixo, sempre acompanhado de doze homens. Eu me sentiria culpada por tanta sedução. E quem se sente culpado quer, no mais fundo, ser castigado. Aí vocês dirão: não, mas ele disse 'Pai, afasta de mim esse cálice.' Como é que você sabe o que ele disse? Alguém ouviu esse diálogo íntimo de Jeshua com seu deus? Ou vocês acham que ele ficou gritando feito um ator no palco, lá no Jardim das Oliveiras, assim aos quatro ventos, para acordar discípulos e passarinhos, justo ele que sabia ser tão delicado?


Ó, patéticas invenções, ó, nós, humanos, tão ambíguos e absurdos!"


quinta-feira, agosto 01, 2002

Um poeminha sobre as mulheres...

Aviso da lua que menstrua

Elisa Lucinda

Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
mas é outro lugar, aí é que está:
cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
é que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
é que tô falando na "vera"
conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
ou sem os devidos cortejos..
Às vezes pela ponte de um beijo
já se alcança a "cidade secreta"
a Atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente
diante da própria serpente
Ela é uma cobra de avental
Não despreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano
que a mulher extrai filosofando
cozinhando, costurando e você chega com a mão no bolso
julgando a arte do almoço: Eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
então esquece de morder devagar
esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
VACA é sua mãe. De leite.
Vaca e galinha...
ora, não ofende. Enaltece, elogia:
comparando rainha com rainha
óvulo, ovo e leite
pensando que está agredindo
que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!

Pra começar, em texto do Millôr sobre a Kelly Key.

Acho que 99% do país já tiveram o desgosto de ouvir Baba, hit da temporada, defendido com muita propriedade pela buzanfa cantante da Kelly Key. Quando essa bosta não está tocando no rádio do seu vizinho jeca, do shopping ou do táxi, tem algum mala fazendo o desfavor de lembrar o refrão pra você. É uma daquelas músicas que só podem ser removidas do córtex cerebral cirurgicamente. Uma desgraça mesmo.

Kelly é um perfeito protótipo de uma vagaba exemplar. Mas calma, isso não é ruim. Afinal, milhares e milhares de brasileiras queriam ser como ela, enquanto a mesma proporção de homens queriam ter ela. Sua carreira começou desastrosamente no Samba, Pagode & Cia., aquela porcaria fracassada que passou na Globo. Deve ter durado uns dois programas, eu acho. Daí, com quinze anos, ela se casou com o Latino - rei do funk melody, que depois tentou enveredar pela lambada e que metade das pessoas só lembra porque ele forjou um seqüestro e a outra metade porque ele tinha um sósia que media uns quinze centímetros e causou um dos momentos mais deprimentes e constrangedores da história da TV brasileira ao se apresentar no Faustão. Ele tinha uns dez anos a mais que ela e já estava em final de carreira, quando a desposou. Daí um belo dia, algum executivo tarado de gravadora teve a idéia de transformar ela numa cruza de Cristina Aguilera com Britney Spears brazuca. Eu achei que não ia colar, que ela ia mais uma vez penar no limbo do fiasco. Mas eis que ela emplacou esse grude, deixando nossa existência um pouquinho mais miserável. Onde está o Taleban nessas horas?

O que eu não entendo é que enquanto todas as agências internacionais de inteligência travam batalhas, movendo mundos e fundos contra a pedofilia, esse mal que assola a humanidade e ameaça o direito de escolha de nossas crianças, as pessoas cantam exatamente o contrário! Se prenderam o Planet Hemp por falar de maconha, por que não prendem essa mala? Afinal ela está incitando uma prática ilegal! Porque, como se não bastasse rimar amor com cão o que já seria passível de pena perpétua inafiançável - ela ainda prega nessa música que o homem que respeita uma mina menor de idade é um otário. E depois que ela completa a maioridade, quando eles já podem furunfar tranqüilamente sem que o cara seja condenado ao xilindró, aí ela não quer mais e fica tirando onda, se insinuando pro distinto homem sem liberar o material, só pra se vingar. Quer dizer, enquanto o cara é direito, não abusa da menor, ele é um babaca, que só merece o desprezo das mulheres porque agiu, no mínimo, corretamente. Tudo bem que achar uma garota que se mantenha virgem até atingir a maioridade é que nem achar um vendedor da Fórum macho. Quase impossível. Mas daí a condenar publicamente o sujeito que pôs a integridade acima do instinto animal... é tipo arrotar alto na mesa, coisas que você só faz entre amigos e em concursos em fim de festas...

Detalhe cabuloso: ela fez essa música para o professor de educação física, por quem ela era amarradona quando tinha sete anos! Imagina se o cara entra numa com a pirralha no cio? O pior é se ele não ficou com ninguém, esperando ela desabrochar e descobriu que ela não só o preteriu pra perder a virgindade com o Latino, como ainda tá ganhando uma baba mostrando como ele foi trouxa pro Brasil inteiro! O nome dessa música tinha que ser braba, que é isso que ela é! Trabalho não mata. Mas vagabundagem nem cansa... (Millôr)

Estou de volta!!
Na verdade, eu estava pensando em não fazer mais blog, mas quem disse que eu consigo ficar sem escrever??? Pois bem, aqui estou eu...
Puxem uma cadeira, peguem a pipoca e o refrigerante e divirtam-se!!!