sábado, novembro 09, 2002

A bunda, que engraçada
by Drummond

A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.

Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora - murmura a bunda - esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.

A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.

Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar
Esferas harmoniosas sobre o caos.

A bunda é a bunda
redunda.



I am LIKE A VIRGIN Madonna // find out what Madonna you are here.

By Carly @ x-girl.co.uk
Quero ser cientista, tentar descobrir como o cérebro funciona, estudar os Transtornos de Humor e de Personalidade. Quero ajudar o homem a ter uma vida melhor, sem tantas dores, que eu sei muito bem o quanto a alma pode sofrer.

Mas também tenho alma de artista. Não consigo deixar de ver a beleza em tudo, de ficar maravilhada com a vida, com o que o homem pode criar. Sou movida a poesia, a histórias bem contadas.

E para mim, a mente é poética.
O amor deixa muito a desejar....
Arnaldo Jabor

Fui ver o lindíssimo filme do Pedro Almodóvar, “Fale com ela”, e saí pensando num conto da Carson McCullers, onde um homem conta que, antes de amar de novo uma mulher, ele estava aprendendo a amar as pedras, as árvores, as nuvens... Nesse grande filme de Almodóvar, vemos amores raros, feitos de entrega, feitos de compaixão, como uma “doação ilimitada a uma completa ingratidão”, como escreveu Drummond, aliás, o poeta do amor impossível, que é o único e verdadeiro amor.

A vitória do Lula também foi uma fome de amor política contra a era da técnica racionalista. Seu governo pode virar até um crime passional ou um folhetim melodramático, mas, hoje, é um grande desejo de happy end para todo o povo. Por isso, pergunto: onde anda o amor? Até isso o mercado estragou?

Sim. O amor já teve um toque sagrado, a magia de uma inutilidade deliciosa, já foi um desafio ao dia-a-dia que nos tirava da vida comum. Hoje o amor, como tudo, está perdendo a transcendência. Não existe mais o amante definhando de solidão, nem romeus nem julietas, nem pactos de morte, não existe mais o amor nos levando para a uma galáxia remota, não existe mais a simbiose que nos transportava a uma eternidade semi-religiosa. O amor tinha uma fome de bondade, de compaixão pelo outro, de proteção à pessoa amada. Isso está acabando. O amor já foi analisado por todas as ciências, a psicanálise mapeou as loucuras que estão sob sua poética, o ritmo do tempo atual acelerou o amor, o dinheiro contabilizou o amor, matando seu mistério impalpável. Hoje, temos controle, sabemos por que “amamos”, temos medo de nos perder no amor e fracassar no mercado. O amor pode atrapalhar a produção.

Por isso, o filme de Almodovar é tão belo e oportuno. Temos de fazer filmes assim, cheios de amor, sem efeitos, sem denúncias. Se eu, um dia, filmar de novo vai ser para celebrar o silêncio dos amantes ou a beleza do inútil. O amor perdeu a gratuidade, as pessoas “amam” por desejo de ter um amor que não sentem mais. O amor não tem mais porto, não tem onde ancorar, não tem mais a família nuclear para se abrigar, não tem mais a utilidade do sacrifício pelo “outro”. O amor ficou pelas ruas, em busca de objeto, esfarrapado, sem rumo. Não temos mais músicas românticas, nem o lento perder-se dentro de “olhos de ressaca”, nem nas “pernas de Fulana”, nem temos as bocas beijadas por amantes tutti tremanti , nem o formicida com guaraná. Não se diz mais: “Deus sabe quanto amei!...”, mas “Deus nem sabe quantos(as) amei...”

A publicidade devastou o amor, falando na “gasolina que eu amo” (“Shell que j’aime”), no sabonete que faz amar, na cerveja que seduz. Há uma obscenidade flutuando no ar o tempo todo, uma propaganda difusa do sexo impossível de cumprir. Como comer todas as moças da lingerie e do xampu, como atingir um orgasmo pleno e definitivo? A sexualidade total, por si só, levaria a uma assexualização desértica. A sexualidade é finita, não há mais o que inventar. Já o amor, não... O amor vive da incompletude e esse vazio justifica a poesia da entrega. Ser impossível é sua grande beleza. Claro que o amor é também feito de egoísmos, de narcisismos mas, ainda assim, ele busca uma grandeza — mesmo no crime de amor há um terrível sonho de plenitude. Amar exige coragem e hoje somos todos covardes.

Mas, hoje, o mercado exige a satisfação total no amor ou o dinheiro de volta. Como isso é impossível, deriva para o sexo ou a para sedução. O amor passa a buscar não mais uma entrega, mas um domínio. O amor vira um objeto de consumo, fast love , com obsolescência programada para durar pouco. O amor deixa muito a desejar. Em geral, o amor existe hoje como uma espécie de adoçante para justificar, legitimar uma tesão ou uma conquista. Os amores duram três edições de “Caras”. Os casais se permutam num troca-troca rápido e quantitativo. As próprias mulheres estão virando “D. Juans”. Vejam o périplo de jovens atrizes que vão comendo, um por um, os modelos que surgem nas revistas, elas, que deviam se manter damas inatingíveis para pálidos quixotes românticos.

Estamos com fome de amor cortês, num mundo em que tudo perdeu aura. O terrível bombardeio que a cultura americana está fazendo nos sentimentos é invisível, mas é pior que as bombas contra o Iraque. A cultura americana está criando um “desencantamento” insuportável na vida social. Tudo é tolerável, num arrasamento de mistérios. Vejam a arte tratada como algo desnecessário, sem lugar, sem uso, vejam as mulheres amontoadas na internet, nuas, com números — basta clicar e chamar. Estamos com fome de infinito em tudo, na vida, na política, no sexo. Por isso, o filme de Almodovar, cheio de compaixão sussurrada, apoiada na trêmula beleza dos balés de Pina Bausch e no Caetano cantando um pranto dolorido, parece um segredo religioso, uma saudade inexplicável de alguma coisa que existe “aquém”, antes da vida.

Nos anos 60, liberdade sexual foi uma questão polÍtica. Hoje, podemos tudo, podemos casar até com jacarés ou macacas, sem escândalos, desde que não prejudique a produção. Mas o que invisivelmente está virando uma nova necessidade política é o amor e seus subprodutos: compaixão, paz, justiça.

Aposto que virá aí um novo desbunde, um novo movimento hippie, sem utilidade, mas sem melancolia autodestrutiva, vêm aí marchas pelo amor, porque ninguém está agüentando mais somente “utilidade” e “desempenho”, poder e sucesso. Estamos virando coisas. Precisamos aprender a amar de novo as pedras, as árvores, as nuvens, até chegarmos a nós mesmos... E acho que isso vai surgir na América, como foi nos anos 60 — a luta pelos direitos civis será agora a luta pela beleza da inutilidade.
ÚLTIMA LÁGRIMA
Secos e Molhados

Sigo sozinho
Bem devagar
Que estou com pressa
De chegar
Já faço parte
Parte menor
De um olho grande
Cego de vez
Prego uma peça,
Talvez
Ou faço pior
Digo uma asneira
É pecado
Não sei de que lado
Vou morrer
Vivo sorrindo
Morto de medo
Que a ultima chance
Vem cedo
Mas mesmo assim
A ultima lagrima
Não há de cair de mim

Bandeira, beijos pra você. Estava com saudades...

E você me fez lembrar que está faltando poesia neste blog. Mas o cansaço me atingiu de tal maneira, que não tenho vontade nem de digitar. Espero que isso passe logo.

sexta-feira, novembro 08, 2002

Bah! Esse blog está muito certinho... na verdade, ele reflete meu lado mais reflexivo. O outro já reflete meu jeito debochado, cínico. É, melhor respeitar o estilo de cada um deles.
As pessoas têm uma idéia errada sobre mim. Acho que é porque eu sou quieta, resesvada entre estranhos. Mas com amigos...

quinta-feira, novembro 07, 2002

Consegui dormir quase 24h na quarta. Só não durmi mais porque tinha que sair.

E o professor, que já disse em sala que é psicótico, gostou do trabalho sobre epilepsia. É até ridículo, mas a gente se matou durante meses pra fazer esse trabalho, para no final escutar um "muito bom" e ficar felizes da vida.

O que as pessoas não fazem por um elogio...

terça-feira, novembro 05, 2002

DescanSar.

Agora, além de já esquecer as coisas da vida, tb estou esquecendo como se escreve. Só não esqueço de comer, que isso o meu estômago avisa, mas de dormir eu já esqueci.

segunda-feira, novembro 04, 2002

domingo, novembro 03, 2002

Eu juro pra mim mesma que não vou descançar enquanto eu não conseguir fazer um link pros arquivos deste blog.