sábado, setembro 14, 2002

Ah sim... eu estou bem. Só indignada, mas isso é básico.
CRÔNICA DA LOUCURA
Mário Prata

O melhor da Terapia é ficar observando os meus colegas loucos.
Existem dois tipos de loucos. O louco propriamente dito e o que cuida do louco: o analista, o terapeuta, o psicólogo e o psiquiatra. Sim, somente um louco pode se dispor a ouvir a loucura de seis ou sete outros loucos todos os dias, meses, anos. Se não era louco, ficou.
Durante quarenta anos, passei longe deles.
Pronto, acabei diante de um louco, contando as minhas loucuras acumuladas.
Confesso, como louco confesso, que estou adorando estar louco semanal.
O melhor da terapia é chegar antes, algumas minutos e ficar observando os meus colegas loucos na sala de espera.
Onde faço a minha terapia é uma casa grande com oito loucos analistas.
Portanto, a sala de espera sempre tem três ou quatro ali, ansiosos, pensando na loucura que vão dizer dali a pouco.
Ninguém olha para ninguém.
O silencio é uma loucura.
E eu, como escritor, adoro observar pessoas, imaginar os nomes, a profissão, quantos filhos têm, se são rodaríamos ou leoninos, corintianos ou palmeirenses .
Acho que todo escritor gosta desse brinquedo, no mínimo, criativo.
E a sala de espera de um "consultório médico", como diz a atendente absolutamente normal (apenas uma pessoa normal lê tanto Paulo Coelho como ela), é um prato cheio para um louco escritor como eu.
Senão, vejamos:
Na última quarta-feira, estávamos eu, um crioulinho muito bem vestido, um senhor de uns cinqüenta anos e uma velha gorda.
Comecei, é claro, imediatamente a imaginar qual seria o problema de cada um deles?
Não foi difícil, porque eu já partia do principio que todos eram loucos, como eu.
Senão, não estariam ali, tão cabisbaixos e ensimesmados.
O pretinho, por exemplo.
Claro que a cor, num pais racista como o nosso, deve ter contribuído muito para leva-lo até aquela poltrona de vime.
Deve gostar de uma branca, e os pais dela não aprovam o casamento, pensei.
Ou será que não conseguiu entrar como sócio do "Harmonia do Samba"?
Notei que o tênis estava um pouco velho.
Problema de ascensão social, com certeza.
O olhar dele era triste, cansado.
Comecei a ficar com pena dele.
Depois notei que ele trazia uma mala.
Podia ser o corpo da namorada esquartejada lá dentro.
Talvez apenas a cabeça.
Devia ser um assassino, ou suicida, no mínimo.
Podia ter também uma arma lá dentro.
Podia ser perigoso.
Afastei-me um pouco dele no sofá.
Ele dava olhadas furtivas para dentro da mala assassina.
E o senhor de terno preto, gravata, meias e sapatos também pretos?
Como ele estava sofrendo, coitado.
Ele disfarçava, mas notei que tinha um pequeno tique no olho esquerdo.
Corno, na certa. E manso. Corno manso sempre tem tiques.
Já notaram? Observo as mãos. Roía as unhas. Insegurança total, medo de viver.
Filho drogado? Bem provável.
Como era infeliz esse meu personagem.
Uma hora tirou o lenço e eu já estava esperando as lágrimas quando ele assoou o nariz violentamente, interrompendo o Paulo Coelho da outra.
Faltava um botão na camisa. Claro, abandonado pela esposa.
Devia morar num flat, pagar caro, devia ter dívidas astronômicas.
Homossexual? Acho que não. Ninguém beijaria um homem com um bigode daqueles. Tingido.
Mas a melhor, a mais doida, era a louca gorda e baixinha.
Que bunda imensa. Como sofria, meu Deus.
Bastava olhar no rosto dela.
Não devia fazer amor há mais de trinta anos.
Será que se masturbaria?
Será que era esse o problema dela? Uma velha masturbadora?
Não! Tirou um terço da bolsa e começou a rezar.
Meu Deus, o caso é mais grave do que eu pensava.
Estava no quinto cigarro em dez minutos. Tensa. Coitada.
O que deve ser dos filhos dela?
Acho que os filhos não comem a macarronada dela há dezenas e dezenas de domingos.
Tinha cara também de quem mentia para o analista.
Minha mãe rezaria uma Salve-Rainha por ela, se a conhecesse.
Acabou o meu tempo.
Tenho que ir conversar com o meu psicanalista.
Conto para ele a minha "viagem" na sala de espera. Ele ri, ri muito, o meu psicanalista.: "- O Ditinho é o nosso office-boy.
O de terno preto é representante de um laboratório multinacional de remédios lá no Ipiranga e passa aqui uma vez por mês com as novidades.
E a gordinha é a Dona Dirce, a minha mãe.
E você não vai ter alta tão cedo..."
A luz acabou aqui em casa lá pelas 4 da manhã. O povo da Copel só chegou às 6 da tarde. E em 5 minutos a luz voltou. Agora, esperar mais de 12 horas pra um serviço que fica pronto em 5 minutos é foda...

Por conta disso, minha irmã querida aumentou a sua frase: Deus devia estar chapado e bêbado quando fez o Brasil.

Tsc

sexta-feira, setembro 13, 2002

Estou indo ali me benzer e já volto.
O dia em que eu conseguir colocar os arquivos aqui eu serei uma nerd feliz.
Não vejo a hora dos ipês que tem na minha rua florescerem, pra quando eu passar por baixo deles, uma chuva de flores douradas caírem sobre mim.

A primavera é tão poética... a primavera e o outono.

Eu gosto da primavera por causa dos ipês floridos, das borboletas borboleteando (duh!) e dos passarinhos cantando. Parece que a natureza está em festa...

E eu nem estou apaixonada.
A confusão insiste em permanecer na minha vida. Será que ela ainda não percebeu que agosto já passou? Ou então que o meu inferno astral acabou faz tempinho? Pelo menos ela podia dar um tempinho pra eu respirar... ainda mais que o meu respirador natural está temporariamente inutilizado. Está muito difícil conseguir ter fôlego.

Diante do caos em que está a minha vida, só tenho uma coisa a dizer: pára o mundo que eu quero descer!!!
Deus devia estar chapado quando fez o Brasil.

quinta-feira, setembro 12, 2002

As idéias não conseguem mais percorrer o trajeto da cabeça até a boca ou a ponta dos dedos. Penso em tanta coisa, tanto pra falar, mas não sai nada nada. Preciso voltar urgente ao planeta Terra...
Eu gostaria muito mais das flores se não existisse o pólen...

quarta-feira, setembro 11, 2002

Um professor de Anatomia da PUC-PR do curso de Psicologia interpretou como frescura o fato de uma menina do primeiro ano do curso ter fobia a cadáver, e a humilhou na frente de todos os alunos, dizendo que não ia ficar agüentando frescura de aluno nenhum. Imagine.. se no próprio curso de Psicologia existe essa idéia de que os transtornos psicológicos são frescuras, pitis e tal, imagina fora!!!

Quem tem depressão, fobia, esquizofrenia ou qualquer outro problema psicológico também sofre, também sente dor. Não é porque não se pode ver o problema através de raios-X, tomografias etc. que são menos dolorosos... são doenças como qualquer outras, que qualquer pessoa pode ter, e devem ser tratadas como tais: como doenças e não como fraquezas!
Foi?

domingo, setembro 08, 2002

ROSA DE HIROSHIMA
Vinícius de Morais

PENSEM NAS CRIANÇAS
MUDAS TELEPÁTICAS

PENSEM NAS MENINAS
CEGAS INEXATAS

PENSEM NAS MULHERES
ROTAS ALTERADAS

PENSEM NAS FERIDAS
COMO ROSAS CÁLIDAS

MAS OH! NÃO SE ESQUEÇAM
DA ROSA DA ROSA

DA ROSA DE HIROSHIMA
A ROSA HEREDITÁRIA

A ROSA RADIOATIVA
ESTÚPIDA E INVÁLIDA

A ROSA COM CIRROSE
A ANTI-ROSA ATÔMICA

SEM COR SEM PERFUME
SEM ROSA SEM NADA

- Você tem mais de 25 anos?
- Não... tenho 22.
- Então você tá mal usada.