A esta altura da minha existência, não posso imaginar levar uma vida normal sem tomar lítio e sem ter tido os benefícios da psicoterapia. O lítio evita minhas euforias sedutoras, porém desastrosas, ameniza minhas depressões, elimina as teias de aranha do meu pensamento desordenado, faz com que eu reduza a velocidade, me ajuda a avançar sem tropeços, impede a destruição da minha carreira e dos meus relacionamentos, permite que eu fique fora de um hospital, viva, e possibilita a psicoterapia. Mas, de um modo inefável, é a psicoterapia que cura. Ela confere algum sentido à confusão, refreia os pensamentos e sentimentos apavorantes, devolve algum controle, esperança e possibilidade de se aprender com tudo isso. Os comprimidos não podem e não conseguem facilitar nossa volta à realidade. Eles só nos trazem de volta de cabeça, adernando e mais rápido do que muitas vezes podemos suportar. A psicoterapia é um santuário; um campo de batalha; um lugar em que estive psicótica, neurótica,enlevada, confusa e com uma desesperança inacreditável. Mas sempre, foi ali que acreditei - ou aprendi a acreditar - que um dia talvez pudesse ser capaz de enfrentar tudo isso.
Kay Redfield Jamison - Uma mente inquieta
Kay Redfield Jamison - Uma mente inquieta